13 de fev. de 2009

Benjamin Button


Acredito que a maioria dos internautas, em algum momento da "vida virtual", se deparou com o seguinte texto do cineasta Charles Chaplin:

"A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso.

Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade.

Você vai para colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando. E termina tudo com um ótimo orgasmo! Não seria perfeito?"


Esse texto poderia ser a síntese perfeita do filme "The Curious Case of Benjamin Button". Exceto pelo final - que não seria muito simpático de minha parte contar - , no qual a criatividade de Chaplin superou a de F. Scott Fitzgerald, autor do livro que inspirou o romance.

No entanto, crédito seja dado ao diretor David Fincher, pela ambientação perfeita de uma Nova Orleans "entre-guerras", fazendo todos os tipos de apologias à liberdade de expressão e aos costumes da época. O tipo de sutileza que faz os espectadores sentirem total familiariedade, mesmo numa estória absolutamente fantástica como essa.

O filme começa com a personagem de Cate Blanchett já velha contando à sua filha uma história, que a princípio nada tem a ver com a principal, sobre um relógio na estação de trem de Nova Orleans. Havia sido encomendado a um homem cego, durante a primeira guerra mundial. Durante a fabricação, o homem recebe a notícia da morte de seu filho no campo de batalha. No dia da entrega do relógio, uma surpresa: intencionalmente, ele fora feito para correr no sentido anti-horário. Era sua forma de pedir que trouxessem de volta seu filho e todos os outros mortos pela guerra.

Então segue a narrativa principal, contada pela personagem de Cate (velha e enferma, na sua última conversa com a filha), e a história sobre o relógio passa a fazer sentido, pois seguia o mesmo curso da vida de Benjamin Button, o garoto que, como ele mesmo se define, "was born under unusual circunstances".

No ano da morte de benjamin, 2002, o relógio é retirado da estação e substituído por um "normal". E assim se encerra o ciclo.

Apesar de ser um filme muito bem produzido e com um elenco incrível, é preciso ter em mente que, apesar de muito tocante, a estória é fantasiosa. A menos que o espectador seja totalmente aberto a novas realidades e esqueça-se por duas horas e meia do mundo real, como foi o meu caso, o filme dificilmente irá emocionar.

Vendo os trabalhos anteriores de Fincher ("fight club", "zodiac", "panic room", "seven"), nota-se que o diretor, embora trablhe com maestria o psicológico e os traumas de seus personagens, nunca se propôs a fazer algo tão sensível como este filme. Talvez o fato de ser uma narrativa em primeira pessoa e feita por uma mulher ajude bastante, mas Fincher está claramente explorando novos horizontes (aliás, é justamente essa falta de flexibilidade que me faz ter um pé e meio atrás com o "so called genious" Tarantino, mas deixo o assunto para outro post).

O filme é bastante longo, porém todo o tempo foi necessário para que cada cena fizesse sentido e se desenvolvesse sem pressa, o que me fez gostar tanto do final do filme (geralmente, finais de filme me deixam irritada por serem apressados demais ou pointless demais). Recomendo que assistam ao filme, e, reiterando, com a mente bem longe dos conceitos de "possível" e "impossível".

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