18 de nov. de 2008

Mudanças


As chuvas de Novembro sempre foram esperadas. Ela ansiava desde Março por uma mísera precipitação que pudesse apaziguar o calor que já se tornara quase insuportável.


Contava os dias, as horas, as nuvens no céu. Fugia de qualquer índicio de sol, escondia-se nas menores sombras, encontrava qualquer refúgio que a fizesse esquecer do astro que brilhava, alheio à sua aversão. Seguia-a quando ela se refrescava na piscina, feliz por poder tocar seu corpo, mesmo que ela rapidamente mergulhasse nas águas, o mais longe possível dele. Ia recepcioná-la após cada banho, em cada amanhecer e permanecia ao seu lado até o anoitecer, mesmo que tão indesejado.


Encolhida em alguma sombra, ela por vezes chorava, clamando alguma paz, algum espaço sem aquela luz e aquele calor sufocantes que cismavam em acompanhá-la. Em seu desespero, só o que a acalentava era pensar nas chuvas de Novembro que logo chegariam.
Conforme foi chegando o mês de Agosto, o sol já sabia que era questão de tempo para tudo mudar. Seu brilho ia diminuindo aos poucos, a medida que as nuvens iam se tornando mais freqüentes. Ela já saía de casa mais feliz, com a expressão vitoriosa, sabendo que o ansiado Novembro se aproximava.

O primeiro dia inteiramente nublado, no mês de Outubro, coincidiu com seu aniversário. Nada poderia tê-la feito mais feliz naquele momento. A breve experiência de uma tarde em claridade deixara-a ainda mais ansiosa. Continuava sua espera pelo mês das chuvas.


O sol encontrava-se mais triste do que nunca. Não apenas porque ele queria continuar acompanhando-a, mas também porque ele percebera o quanto ela desejava sua ausência. Não que se sentisse magoado ou ofendido, apenas temia por ela. Sua experiência o dizia que ela não sabia ao certo o quê viria pela frente. Ela querer-lhe-ia ainda, ele estava certo disso, mas não queria que sua menina sofresse.


Foi pouco antes das primeiras chuvas que ela percebeu: não tinha qualquer tipo de roupa de frio, simplesmente não era preparada para viver aquilo. Enquanto se concentrara em não suportar o sol, esqueceu-se de se preparar para quando ele a deixasse.
Mas, bem, isso não poderia ser de todo um problema. Afinal, finalmente, o mês das chuvas chegou!


Ele era um triste espectador de sua felicidade sob as gotas de chuva, tendo certeza de que, enquanto ela sorria, as gotas tentavam machucá-la. E logo conseguiriam.


Não demorou muito para que ela se sentisse incomodada. O vento forte tentava expulsá-la. A precipitação, cada vez mais forte, era agressiva em sua pele. Quando voltou para casa, torcendo a roupa encharcada, pegou-se pensando no sol, e no modo gentil como ele sempre a tocara. Descobriu que sentia saudades.


E Novembro finalmente havia chegado. Ela conseguira roupas, de modo a deixar sua pele mais dura sob as gotas agressivas, e conseguia passar pela estação das chuvas, indiferente, pois tinha certeza de que, alguns meses depois, o sol voltaria a tocá-la de maneira terna e delicada, ainda que fosse levar certo tempo para se reacostumar com aquela luz e aquele calor há tanto perdido.

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