Incerta de onde estava, continuava correndo. Sabia do erro fatal. Não era culpa dela. Não iria resumir sua vida a isso.
- Mel? Não deu certo, Mel. Não deu certo e você precisa me ajudar.
Não precisava olhar para saber de quem era a voz. E nem iria. Ela fora enganada. Sim, enganada. E a mulher que cuidasse disso sozinha.
Então por que continuava correndo?
A porta à frente parecia ser sua salvação. Escancarou-a e adentrou ao cômodo, sobressaltando-se quando esta bateu com toda a força. Tanto melhor se estivesse trancada.
- Hey
- Oi, desculpa, eu achei que estivesse sozinha...
- A gente se conhece?
Sim, eles se conheciam. Claro que se conheciam. Ela reconhecia sua voz, seu cheiro, seu toque preocupado em seu ombro. Abriu a boca, mas não conseguiu pronunciar o nome dele.
- Achei que não. Mas então, o que aconteceu com você?
Ele sabia. Ela sabia que ele sabia. Por que estava perguntando?
No momento seguinte, a porta se abre, e o ambiente passa de escuro a excessivamente iluminado. A mulher entra.
- Ora, vamos, garota! Não seja irresponsável!
Ela tentava argumentar, mas sua voz não saía. A luz a estava irritando pela primeira vez.
Ele entendia. Ela podia ver em seus olhos. Ele já sabia. De novo.
- Droga, Mel... Eu não posso fazer isso...
Ela sabia que a sala iria se escurecer, mas dessa vez ela ficaria sozinha. Sabia que suas pernas não aguentaria seu peso, por isso sentou.
- Não... Por favor, não! Precisa ter outro jeito, a gente vai descobrir...
Ela precisava ir atrás dele. Não sabia como seguir, só sabia que não podia fazê-lo sozinha. Ela precisava se levantar...
- AI! Inferno de cama...
Mel levantou-se da cama, com cuidado para não bater a cabeça de novo na prateleira logo acima. Enquanto dobrava o pesado edredom, pesava se conseguiria dormir um único dia sem acordar com a pancada contra aquele maldito negócio de madeira.
"Talvez meu pai possa tirá-lo depois..." pensou.
Sentou-se na ponta da cama, não podendo mais evitar pensar no sonho. Tomando uma decisão, foi para a sala pegar o telefone. Sabia que seu pai não estaria em casa antes do almoço.
Já discara aquele número tantas vezes, não fazia sentido hesitar agora. Ou pelo menos era o que ela argumentava para si.
tu...
Ele não ficaria bravo... Ela tinha certeza que ele também sentia falta dela.
tu...
E se ele também sonhasse com isso? Não seria estranho, tratando-se deles...
tu...
- Oi? - foi uma voz feminina que atendeu.
"Ah, merda!"
- Ah... oi, será que o Mateus tá por aí? Ah, aqui é a Melinda... Tá, espero sim.
Com certeza a mãe dele não ficara sabendo de nada. Não, claro que não, ele tinha prometido não falar...
- Mel?
- Ma... Mateus, oi. Eu... Senti saudade. Queria falar com você. Sabe, obrigada... Sabe, pelo bilhete...
- Hm, de nada... Mesmo que você não esteja fazendo o que eu pedi.
Melinda ficou em silêncio. Nunca sabia o que falar quando ele dizia exatamente o que ela tentava esconder. E ele tinha esse péssimo hábito.
- Mel... Eu te conheço. Me fala, aconteceu alguma coisa?
- Matt, eu não consigo. É a terceira noite seguida que eu sonho com você e com aquela mulher e tudo sempre fica escuro! E não tem luzes na minha janela aqui...
Foi a vez de ele ficar em silêncio, do outro lado da linha. Ela sabia que ele estava pensando, por isso também não falou.
- Você... Tá sozinha aí?
- Uhum. Papai costuma voltar perto da hora do almoço, só.
- Hm. Inclusive amanhã?
- Bom, sim... Matt, o que você vai fazer?
- Então, me encontra. Amanhã, nessa hora... Bom, eu tenho seu endereço, eu apareço aí.
- Mas Matt, espera, eu..
- Tchau, Mel.
- ...posso ir aí. - Ela terminou de falar, para o telefone que respondia com frios "tu... tu... tu...".
Colocou-o no gancho, e foi para seu computador. Não poderia negar que estava muito feliz pelo dia seguinte. E ligeiramente nervosa.
"Seguir em frente... Quem diria que o algum dia seria tão logo?"
Sorriu para si com o pensamento.
continua.
O CHAMADO DA NOITE
Há 11 anos
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