Ou "A outra", como ficou conhecido no Brasil o filme que conta a história de Ana e Maria Bolena, tão fiél à sua verdadeira história quanto um romance dessa magnitude pode ser.
Apesar de mostrar, com riqueza de detalhes, a relação das irmãs com o rei Henrique VIII da dinastia Tudor, a história foca, principalmente, na relação entre as irmãs, e como um sentimento de inocente afeto pode se transformar em mágoa, rancor, desejo de vingança, raiva e, por fim, remorso, gratidão e admiração.
Não sei se o termo "fatalidade" seria correto para designar o sentimento que surgiu entre Maria Bolena e Henrique VIII - não estou certa quanto a até que ponto a paixão é inevitável -, mas é palpável o incômodo da irmã pela traição a Ana. Para piorar a situação, Maria fica grávida do rei - o que era a grande questão do reino na época, já que sua esposa, Catarina de Aragon não lhe tinha dado qualquer herdeiro para o trono inglês.
Ana casa-se de forma inconstitucional com outro homem e consuma o casamento. A irmã toma conhecimento do fato, e Ana é mandada para a corte francesa para evitar um escândalo.
O filme desenrola-se, e o final todos sabem: Para casar-se com Ana (ignorando qualquer interesse econômico e mantendo somente o lado romântico da história), o rei divide o país, rompe com Roma, condena Catarina à morte sob falsa acusação de traição, cria a igreja Anglicana e nasce então a futura "rainha de ouro", Isabel, também conhecida por Elizabeth.
Insatisfeito, pois esperava um herdeiro homem, o rei usa o mesmo artifício que usara com Catarina: acusada de adultério e incesto, Ana é condenada à morte na guilhotina.
(curiosidade: o rei se deu ao trabalho de chamar um carrasco veneziano para operar a guilhotina que mataria Ana. Isso é que é dar trabalho até na hora da morte, huh?)
Uma das cenas mais emocionantes, para mim, é quando Maria, que vivia já fora do reino, volta para pedir pela vida da irmã. Horas antes de sua morte, há a reconciliação entre as duas.
O pedido, claro, é negado pelo rei, e Maria é condenada ao exílio. Elizabeth, que é então considerada ilegítima, vai ser criada pela tia ao lado do primo.
É extremamente trágico pensar no tanto que Ana cercou, por todos os lados, para se tornar rainha da Inglaterra, e acabou tendo o mesmo fim de Catarina. Sacrificou, inclusive, o bom relacionamento com toda a sua família, sobretudo com a irmã. A mesma que, no começo do filme, ela diz ser "mais jovem e mais bonita" que ela própria, com um tom de grande orgulho, e que, pouco depois, torna-se sua principal rival. Mas a admiração de Maria pela irmã é facilmente vista pela criação de Elizabeth, que além de ser a imagem e semelhança da mãe, quando rainha, defende com garras e dentes a religião que a colocou no poder.
Apesar de alguns exageros estratégicos (Ana calculista até o último suspiro e Maria inocente e bondosa), o filme faz jus à inteligência de Ana e à beleza da relação das irmãs, que ao final acaba predominando o afeto e a admiração. Impossível não se emocionar durante o discurso final de Ana, e do pânico que toma conta dela e da irmã quando vai chegando o momento derradeiro.
Com direção de Justin Chadwick e escrito por Peter Morgan, o filme conta com os expoentes britânicos Scarlett Johansson (como Maria), Natalie Portman (como Ana) e Eric Bana (como Henrique VIII) no elenco.
A fotografia não deixa a desejar (embora eu insista em reclamar cenas mais claras, eu sei que o sentimento de coisas acontecendo às escondidas o tempo todo não teria ficado tão bem trabalhado com muitas luzes em cima), e a trilha sonoa, apesar de não muito marcante, é bastante apropriada.
Uma ótica excelente para esse relacionamento tão polêmico até hoje entre as duas irmãs, e desenvolvido com muita perfeição. Vale a pena assistir.